"Um dia ela percebeu-o." Percebeu que ele era o avesso dos sonhos que ela tinha construído e que sem mais explicações ele destruiu num abrir e fechar de olhos. Percebeu que há sonhos que não se ajustam ao que sentimos. Ela percebeu-o sem que alguma vez ele a tenha conhecido. E foi quando se viu sozinha, num mundo demasiado grande para si, que entendeu que sempre vivera no meio de uma multidão que não sabia quem ela era. Poderia ter sido só mais um dos muitos acasos que não acontecem na vida. Poderia ter sido somente um a encruzilhada em que o destino queria que ela seguisse em frente, e ela hesitou olhando para o lado. Poderia não ser nada, mas ela teimosamente quis que fosse quase tudo. E foi no meio dessa multidão que o olhou como se o futuro já tivesse chegado e o passado nunca tivesse existido. Pegou nessa ilusão e fez daquele sonho a sua razão de existir. Já se tinha habituado ao que a fazia sofrer, apesar de também saber que merecia mais do que um sofri