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A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA ESTRADA | Fernando Pessoa

- A criança que fui chora na estrada. I A criança que fui chora na estrada. Deixei-a ali quando vim ser quem sou; Mas hoje, vendo que o que sou é nada, Quero ir buscar quem fui onde ficou. Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou A vinda tem a regressão errada. Já não sei de onde vim nem onde estou. De o não saber, minha alma está parada. Se ao menos atingir neste lugar Um alto monte, de onde possa enfim O que esqueci, olhando-o, relembrar, Na ausência, ao menos, saberei de mim, E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar Em mim um pouco de quando era assim. II Dia a dia mudamos para quem Amanhã não veremos. Hora a hora Nosso diverso e sucessivo alguém Desce uma vasta escadaria agora. E uma multidão que desce, sem Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora. Ah, que horrorosa semelhança têm! São um múltiplo mesmo que se ignora. Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo. E a multidão engrossa, alheia a ver-me,  Sem que eu perceba de onde vai crescendo. Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,
Mensagens recentes

ODE A SARAMAGO | Frassino Machado

ODE A SARAMAGO (Ano do seu Centenário, 1922 – 2022) Foi poeta, sem ser Poeta, Qual escritor inacabado, Se o fosse, José Saramago Estaria na “terra do pecado”. A Poesia é uma arte nobre Entre as artes admissíveis; Mas, sentindo-se como pobre, Ele criou “os poemas possíveis”. A par desta arte poética, Reconhecendo a submestria, Ousou na rima e na métrica “Provavelmente alegria”. P´ los sociais horizontes Sentindo o espírito envolto Narrou seus temas co´ as fontes “Deste mundo e do outro”. P´ las janelas do seu olhar, Mostrando rosto e semblante, Fez, entre escolhos, transitar “A bagagem do viajante”. Nunca estacionou no tempo. Fintando qualquer revês Tratou bem e com talento D´ “o ano de 1993”. Em temáticas especiais, Por delicados fragmentos, Narrou em traços magistrais, Destacando “os apontamentos”. A sua mente era brilhante, Por entre ambientes refulgia, Como um eterno estudante, “Manual de pintura e caligrafia”. Por uma instável nostalgia Com su´ alma fazendo base, Sem tristeza nem a

O MILENAR COMETA! | Ró Mar

Fotografia de Ró Mar O MILENAR COMETA! Ah, ousando louvar o mor nobre Poeta, Numa alma violeta, hei de o homenagear! Num breve escrevinhar, a fórmula secreta Há de ser descoberta e a quero divulgar! Porque posso sonhar! O milenar cometa, Que tenho como meta! Esta arte de poetar, Encaixada a rimar, faz rolar a caneta Numa escrita concreta! Ah, hei de o conquistar! E, por tanto o amar exponho o coração Numa linda canção, que s' esvoaça em berço Rendilhado a verso orlado d' emoção; Aos céus chegarão os dias que converso, P'lo planeta disperso, orando por paixão E honrando o padrão dos "Sonetos do Universo"! © Ró Mar | 2021 https://ro-mar-poesia.blogspot.com

AS MUSAS DE APOLO | Frassino Machado

AS MUSAS DE APOLO  No sumptuoso Trono do Olimpo celestial Tangia Apolo na sua Lira, as vibrações Da dança e voz das nove Musas, em coral, Por entre soantes cânticos de aclamações. 1. Calíope, qual a Musa da eloquência E da bela poesia heróica discursiva, Possuía a mais bela voz e influência E, por todo o Olimpo, a mais persuasiva. 2. Clio, qual a Musa responsável da História E coordenadora das festivas celebrações, Avivava o cultivo da plural memória Dinamizando toda a Escrita e tradições. 3. Érato, qual a Musa lírica e amorosa Dos desejos eróticos e sonhadores, De seu nome adorável e sempre deleitosa Cantando à Lira as paixões e os amores. 4. Euterpe, qual a Musa da festa e d´ alegria, A preferida de Zeus e de Mnemosina, Usuária da suave flauta e da poesia E líder coral, como elegante dançarina. 5. Melpómene, qual a Musa do teatro e da tragédia, Briosa corista com a máscara ornamentada, Representando, por vezes, a própria comédia Na severidade que se impõe ao drama de fachada. 6. Polí

SAGRADA POESIA | Joaquim Jorge De Oliveira

Ilustração: obra de Manuel Nuñez SAGRADA POESIA Adoro! Quando chovem palavras Suaves como plumas sobre mim Adoro! Quando dispo com o olhar O teu vestido rosa de cetim Adoro! Quando Deus pinta o céu Com as cores do arco-íris E beijo o rosto que escondes no véu Adoro! Quando enfeitas o teu cabelo Com adereços exóticos de magia Adoro o teu crítico e sábio conselho No final de cada sagrada poesia Adoro sentir-me parte do universo Dependente do teu ser mortal Adoro, adoro! Confesso! Esse teu lado mais espiritual Adoro ver passar o tempo. Adoro! Exercer em nós a metamorfose Rápida como um velho meteoro Adoro a prece que inventaste Com a intenção de nos salvar Adoro o sonho que me contaste Longe deste lúgubre lugar Adoro! A noite eterna dos poetas Abençoada pelos teus beijos Oferecidos aos sábios profetas Adoro! Quando sinto desejos Pelas coisas íntimas e secretas Adoro! Quando me deixas amar No éden de flores, esbeltas Adoro sentir a fresca madrugada Com perfume divino de maresia Exaltada pa

A LEVEZA DO SER | Ró Mar

A LEVEZA DO SER A leveza do ser é beleza de ver A olho nu...; sentir, que o sol vai partir Na noite a nascer; lençol de amanhecer... Cambraia a esculpir o ser que há-de existir... Tecendo sereno a face do terreno Na tela esmeralda...; é sonho de vida, Que anoto no caderno...; é dia em pleno Vento e de grinalda iluminando a saída... Ah! Este mar tão calmo e dum infinito olhar P'lo ser a cirandar... tem mais de um palmo De verdejante almo e mais pra contar... Ah, na tela a brincar lê-se salmo, Que tão bem declamo! Este veranear Dos céus faz do mar paz e vida que amo. © Ró Mar https://ro-mar-poesia.blogspot.com/