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Mensagens

A LEVEZA DO SER | Ró Mar

A LEVEZA DO SER A leveza do ser é beleza de ver A olho nu...; sentir, que o sol vai partir Na noite a nascer; lençol de amanhecer... Cambraia a esculpir o ser que há-de existir... Tecendo sereno a face do terreno Na tela esmeralda...; é sonho de vida, Que anoto no caderno...; é dia em pleno Vento e de grinalda iluminando a saída... Ah! Este mar tão calmo e dum infinito olhar P'lo ser a cirandar... tem mais de um palmo De verdejante almo e mais pra contar... Ah, na tela a brincar lê-se salmo, Que tão bem declamo! Este veranear Dos céus faz do mar paz e vida que amo. © Ró Mar https://ro-mar-poesia.blogspot.com/

"NO VOO DAS PALAVRAS" | Frassino Machado

NO VOO DAS PALAVRAS  Todas as palavras se assemelham a pedras Umas de corpo menor, outras de corpo maior; Com elas se pode matar, ou pode fruir, Com elas se pode chorar, cantar ou sorrir. São pedras e todas elas, corpo de palavras Que em liberdade saem das mãos do poeta; São elas, só elas, que acabam com a guerra Instalando p´ lo tempo a poesia na terra. Há pedras de corpo menor, corpo de versos, E, como se fazem casas, fazem-se os livros; Elas vêm de longe ou encontram-se imersas Nos pontos de encontro, de paixão e promessas. Há pedras de grande corpo, como montanhas, Que fazem abrigos ou, quem sabe, janelas; E revelam-se em si no condão doutras vidas, Vidas alternas, mas sempre vidas sentidas. Palavras de estâncias vivas ou estâncias mortas Feitas quimeras mas revestidas de esperança; Incertos caminhos e sendas encruzilhadas, Nos raios de luz que agitam as madrugadas. Palavras lançadas no instinto do coração Saltando ...

"SERENIDADE" | Joaquim Jorge de Oliveira

Ilustração: Obra do artista austríaco: Cristian Schloe "SERENIDADE" Vieste abraçada à Lua! E eu, gosto da paciência e serenidade Guardada misteriosamente em ti! Enquanto não deixaste a eternidade E voltaste de novo à vida aqui Chegaste como a pluma de um pássaro Solta, e livre, sem querer, sem saber Que é aqui o palco do teatro, da emoção E o bater do coração permite amar e viver Gosto da paciência e serenidade! Que trouxeste com o teu silêncio sereno Quando vieste para aqui de verdade Depois do teu périplo sagrado e eterno E trouxeste contigo esse teu sorriso Que encanta as estranhas criaturas Que ganhaste enquanto estiveste no paraíso Perdida em mil e uma aventuras De perder o norte, a noção da morte, o juízo Gosto da paciência e serenidade! Como voltaste com desejos de colo Que sentiste no mistério da saudade Voltaste como tinhas anteriormente partido Frágil, débil e cega de visão Presa ao teu corpo ainda adormecido...

ARTE POÉTICA OU POESIA | Frassino Machado

ARTE POÉTICA OU POESIA   “O culto das palavras” A pensar e a falar é que a gente se entende. Como se entenderá sem pensar nem falar? As palavras – diáfano tapete que se estende – Suportam, passo a passo, todo o passo a dar. E o culto das palavras está na própria vida Que no seu horizonte gera uma emoção, E somos nós, os poetas, que lhe damos vida Sob a forma de poemas com a inspiração… Buscar palavras, quer ao sol quer ao luar, É o gesto de dor que todo o poeta despende Até que a obra se revele a germinar Naquela chama ardente qu´ o seu estro acende. Arte poética que, em si mesma, é poesia – Rosário de palavras, de alegria e canto – E mais o é se ela contiver a harmonia P´ la doce exaltação do seu feliz encanto! © Frassino Machado In JANELAS DA ALMA   www.frassinomachado.net

"ORTOGRAFIA, LUSOFONIA E PRECONCEITOS" | Fernando Couto e Santos

"ORTOGRAFIA, LUSOFONIA E PRECONCEITOS" Há algumas semanas, fomos surpreendidos - ou talvez não - por notícias vindas a lume na imprensa que se faziam eco de um certo mal-estar na universidade portuguesa. Esse desconforto estribava-se na incapacidade revelada por alguns professores para lidarem com alunos oriundos de outros países de língua portuguesa, mormente timorenses e brasileiros, ao ponto de, não raro, os alunos desses países serem brindados com uma muito desagradável frase: «Fale português!». No caso timorense, não conheço bem a realidade de um país em que durante a ocupação indonésia - que durou duas décadas e meia - o português nem sequer foi leccionado. No caso brasileiro, os equívocos são muitos dos dois lados do Atlântico, mas – creio eu – de forma mais acentuada em Portugal, não obstante as relações sempre amistosas entre os dois países. O Brasil tornou-se independente da então coroa portuguesa há perto de duzentos anos e a distância, o atraso português ...

"UM DIA ELA PERCEBEU-O" | Angela Caboz

"Um dia ela percebeu-o." Percebeu que ele era o avesso dos sonhos que ela tinha construído e que sem mais explicações ele destruiu num abrir e fechar de olhos. Percebeu que há sonhos que não se ajustam ao que sentimos. Ela percebeu-o sem que alguma vez ele a tenha conhecido. E foi quando se viu sozinha, num mundo demasiado grande para si, que entendeu que sempre vivera no meio de uma multidão que não sabia quem ela era. Poderia ter sido só mais um dos muitos acasos que não acontecem na vida. Poderia ter sido somente um a encruzilhada em que o destino queria que ela seguisse em frente, e ela hesitou olhando para o lado. Poderia não ser nada, mas ela teimosamente quis que fosse quase tudo. E foi no meio dessa multidão que o olhou como se o futuro já tivesse chegado e o passado nunca tivesse existido. Pegou nessa ilusão e fez daquele sonho a sua razão de existir. Já se tinha habituado ao que a fazia sofrer, apesar de também saber que merecia mais do que um sofri...